Estava tudo planejado! Só o São “Petersen” pisou na bola!
Com ou sem sol, eu sabia que o sábado em Estocolmo começaria devagar, quase parando. Afinal, na noite anterior, aquela que tinha sido a mais longa do ano, toda a Escandinávia havia comemorado o início do verão (Midsummer Holiday) e os suecos não teriam ido para a cama nem cedo, nem sóbrios.
Foi pensando nisso que eu havia tomado a decisão de não insistir em tentar circular pelas áreas centrais de Estocolmo naquela manhã.
Eu investiguei as minhas opções num fórum do Trip Advisor. Lá, eu havia lido que no domingo do feriadão, a cidade começaria a voltar ao normal, então resolvi deixar o centro de Estocolmo para o domingo.
Havia lá, também, um comentário que indicava que em todos os anos no parque Skansen, os suecos celebram o sábado de Midsummer com danças e comidas típicas, imitando os costumes mais antigos do interior. Pensei numa quermesse… Gostei e anotei.
Depois, li em algum outro canto do cyberspace que passear pelo arquipélago de Estocolmo era um programa bem legal. Imaginei que seria um bom programa-introdução para uma futura visita aos milhares de lagos finlandeses.
No verão, dá para ir de barco através do arquipélago a uma dezena de pequenas cidades e atrações ao redor da capital. Havia muitas opções. Eu preferi escolher um programa fácil e não muito longo, pois não teria muito tempo. Resolvi pegar um barco até o palácio Drottningholm, a residência principal da família real sueca.
Pronto, eu já tinha programa para o dia inteiro! Ambos seriam ótimos programas à prova de Midsummer Holiday, afinal, não dependeriam de que nada na cidade funcionasse. Fiquei empolgado de novo.
O primeiro fim de semana de verão amanheceu lindão assim. Eu só não fiquei com pena dos suecos porque eu estava mesmo era com pena de mim. Lamentável, um fim de semana, eu pego feriado e tempo ruim. Cadê o São Pedro, protetor do Gira Mundo?
Haja disposição! Firme e forte, peguei um barco ao lado da prefeitura. À medida que o barco começou a cruzar os canais e lagos, deixando a área central da cidade, eu me dei conta de que aquele passeio, acima de qualquer coisa, mostraria muito sobre o modo de vida e cultura escandinava.
Os escandinavos não têm alma urbana. Nota-se que há um grande gosto pela vida no campo, pelo contato com a natureza, eles valorizam muito a vida a céu aberto. Todos querem estar na beira da água, perto de um lago, ter uma pequena casa no campo. Um tempo ruim daquele e a galera nos barcos!!!
Além do city tour cultural que o passeio garante, a paisagem não decepciona. Vale dizer que Estocolmo já tinha muito potencial para ser uma cidade bacana desde que foi fundada no século XIII. A área metropolitana está distribuída entre dezenas de ilhas entre o lago Malaren e o mar Báltico. Um lindo cenário, sem dúvida.
É bem nas margens da ilha de Gamla Stan (área central e histórica) que a água salgada encontra a doce num pequeno estreito. É mais fácil pensar que a ilha funciona quase como uma rolha tapando a comunicação do grande lago com o mar. Tanto na direção interior, lago adentro, quanto em direção ao Báltico, há centenas de ilhas e canais que formam o Arquipélago de Estocolmo.
Como eu poderia ter previsto, o palácio Drottningholm é bem menor do que se poderia imaginar de uma residência real. Não poderia ser diferente nesta terra socialmente inteligente e resolvida que é a Escandinávia. Ainda que os suecos apreciem o luxo e conforto, eles fazem isso com muita discrição. Não existe muita suntuosidade, não espere ver nada de ostentação. Muito pelo contrário. Achei bem interessante o fato de que quase todo o palácio está aberto para visitação, embora a família real viva ali, a apenas alguns cômodos de onde eu circulava. O guarda me falou que os reis estavam em casa. Se a segurança se distrair, vai ter gente que vai abrir alguma porta errada e pegar a Rainha Sílvia de camisola!
Não sei, mas fiquei com a impressão de que a família real vive em dependências quase prosaicas!
Estas foram as casas mais suntuosas que vi em Estocolmo! Chique é ser iluminado!
De volta à cidade, eu resolvi seguir direto para o Skansen. No caminho, eu cruzei rapidamente a famosa Rua Vasterlangattan em Gamla Stan (centro histórico) e fiquei pessimamente impressionado. Um lugar cheio de lojas de souvenir barato onde eu não consegui encontrar um lugar simples e gostoso para comprar algo típico para comer, só havia restaurante “tipo-italiano-pega-turista” e lojas de conveniência. Preferi passar fome a me render, então segui reto para o ferry para Slussen, planejando matar um urso para comer quando chegasse lá.
Outro mundo me aguardava do outro lado da baía. Em Slussen, eu passei a encontrar os nativos no caminho. O parque estava logo ali.
Loiro casa com loira.
O Skansen é programão para crianças e adultos e eu curti pra caramba. E dessa vez eu acertei, no Midsummer Holiday o parque ficaria com cara de quermesse. Quermesse de escandinavo vale dizer.
pequena casa de veraneio no campo retratada em Skansen
O parque é uma mistura de museu a céu aberto de cultura escandinava (ou seja, tudo a ver com eles) com zoológico de animais da região. A área que mais gostei (lógico) é aquela onde em cada casa você pode experimentar um prato ou guloseima viking. Delicioso! Há também artesanato local feito ali na sua frente.
Programei minha visita para almoçar e assistir às apresentações folclóricas. Achei um restaurante digno de Blue List. Comida local, bom, bonito e barato. Nota 10!!!
Eu queria comer um smorgasbord (buffet típico sueco), mas confundi com smorgasar (sanduíche). No final, a atendente me sugeriu o especial do dia e eu aceitei. Espetacularmente bem servido e delicioso, perfeito para quem curte um salmão e com pão sueco ficou demais. Já pensou se eu tivesse me saciado lá no centro da cidade?
Tomei um refrigerante de peras meio estranho e fiquei me divertindo tentando decifrar o que aquelas duas lindas pequenas suecas falavam enquanto os pais delas escolhiam quinquilharias na loja de dentro do restaurante. Disfarçando ao bater a foto para que ninguém achasse que eu fosse um maníaco.
Em seguida, fui ver os shows folclóricos. Foi engraçado. A “quadrilha” que eles dançavam não tinha nada de especial, mas os casais-dançarinos estavam curtindo tanto a apresentação que deu gosto de ver. Eles pareciam não estar nem aí para a platéia.
No caminho de volta, eu tomei um bonde “de época” em frente ao Skansen. Bonito pra caramba! Bati a foto e ele veio me cobrar… A foto? Não, o bilhete.
Embora eu estivesse muito satisfeito com o passeio (foi bem mais legal do que eu pensei), já não dava mais para negar que aquela seria a minha segunda e última noite em Estocolmo e eu não veria mais o sol das onze da noite.
Fui para a cama torcendo apenas por algum raio de sol para o dia seguinte. Sim, porque bastava que tivesse sol. E já que eu embarcaria às oito da noite do domingo, era melhor que tivesse sol só de dia, já pensou se abrisse o sol só perto das onze da noite?
Não, São “Petersen” não iria me aprontar uma dessa…